Na semana após o encontro com o
Henrique, ele iria sair de férias e viajar. Antes de ir, me disse pra eu ter
muito, muito, muito juízo durante a viagem dele. Eu tive, mas naquele fim de
semana iria estrear um filme que eu queria muito assistir, e eu detesto ir ao
cinema sozinho. Então entrei no bate-papo, e conheci um cara que se tornou
muito especial pra mim até hoje, o meu melhor amigo, o Mário.
Na época ele tinha 17 anos, estava
morando numa cidade vizinha de São Paulo havia uns seis meses, antes disso ele
morava no Norte. Tinha cabelos pretos, lisos, era branco, magro, olhos pretos e
devia ter 1,70 m de altura. Ele também estava muito afim de assistir o filme
que iria estrear, então combinamos de ir juntos. Como ele não conhecia nada na
cidade eu fui encontrá-lo no terminal de ônibus onde ele chegaria. Ele não era
feio, também não era lindo, mas era muito simpático e divertido. Fomos ao
cinema, assistimos o filme, depois conversamos um pouco. Ele parecia ter
gostado de mim, mas desde o começo eu deixei bem claro que já estava gostando
de uma pessoa. Eu me comportei muito bem como tinha prometido pro Henrique.
Depois levei o Mário de volta pro terminal e voltei pra casa.
No final de semana seguinte o Henrique
voltou da viagem, mas nem deu pra gente se ver, pois ele tinha perdido a
carteira e teve que tirar novos documentos, e teve outros compromissos com a família
dele também. Então seria mais uma semana sem nos vermos. Durante a semana eu saí
de férias, mas ele voltou a trabalhar. Até marcamos um encontro, mas quando eu estava
à caminho ele me ligou dizendo que não ia poder me encontrar pois teria que
trabalhar até mais tarde. Então dei uma volta pelo shopping. O Lucas me ligou
enquanto eu estava lá, até pedi pra ele me encontrar, mas sabia que ele iria
inventar alguma coisa pra não ir. Depois voltei pra casa.
No feriado do dia 20 de Novembro, o
Henrique levou os pais dele para o litoral de manhã, depois foi pro trabalho. Já
fazia quase um mês que a gente não se via. E naquela noite ele me ligou
querendo vir me buscar pra dormir na casa dele, mas já estava muito tarde, meus
pais iriam me encher o saco se eu saísse aquele horário, e o Henrique não
conhecia meu bairro, fiquei com medo dele se perder, ou ser assaltado, alguma
coisa do tipo. Então disse pra ele que era melhor não, por esses motivos, e
perguntei se não poderia ser na noite seguinte, de sábado pra domingo. Ele
concordou, e na noite seguinte fui encontrá-lo metrô.
Ele se atrasou por causa do trabalho,
mas eu não me importei em esperar. Queria muito ver ele, estava com muitas
saudades. Quando ele saiu do metrô eu estava na plataforma esperando, e sorri
assim que o vi. Ele me deu um abraço, pediu desculpas por ter demorado, e disse
que não ia poder me levar pra casa dele porque sua irmã mais nova estava lá
naquela noite. A gente discutiu um pouco porque na noite anterior a irmã mais
velha dele também estava em casa e ele não teve problema algum pra me chamar.
Depois ficamos em silêncio. Eu estava encostado no muro da plataforma, com uma
das mãos apoiadas sobre ele. O Henrique pegou a minha mão e ficou fazendo
carinho nela. Eu estava um pouco decepcionado, e ele sabia disso. Pediu
desculpas mais uma vez, e disse que realmente não ia dar pra ficarmos juntos naquela
noite.
Então eu disse que queria acompanhá-lo
até a estação onde ele desceria, que ficava perto dali. Ele tentou me convencer
a não ir pois estava tarde, mas desistiu quando percebeu que eu não ia abrir mão
disso. Dentro do metrô a gente se falou pouco. Quando chegamos, acompanhei ele
até a catraca de saída, e no caminho ele me disse:
- Me
desculpa mesmo, eu queria te levar, mas hoje não vai dar.
- Tudo
bem Henrique, eu entendo, só queria te ver, eu sinto sua falta. – eu respondi.
Então ele me disse:
- Não
diga isso, assim eu fico com a consciência pesada.